sábado, 20 de agosto de 2011

A Copa do mundo (não) é nossa

Bom, confesso que ler o jornal de manhã não me costuma ser animador. Ainda mais quando você está em uma cidade onde o metrô tem hora pra chegar, a prefeita vai trabalhar de bicicleta e os carros param sempre que você lança um discreto olhar para a faixa de pedestres. Kassab, Sérgio Cabral, Wagner Rossi, gente trabalhada na arte de malufar... Valei-me minha nossa senhora do pagante de impostos! Essa galera complica meu início de dia e meus planos de, logo mais, voltar para o Brasil.

Mas, preciso confessar que, às vezes, um vento bate jogando meus cachos para o alto, algumas folhinhas voam como um clichê de Hollywood e eu cedo à esperança. Digo meus porquês:

Nesta semana, o Brasil foi citado várias vezes nos noticiários parisienses de rádio (estamos sem TV) pela tentativa de Dilma de combater à corrupção nos ministérios do seu governo.

Na boa, você pode nem ter votado na mulher, pode nunca ter gostado do Lula, pode odiar qualquer menção à cor vermelha ou nunca ter deixado sua barba (ou a do seu digníssimo) crescer, mas, certamente, se tem algum bom senso, vai apoiar a limpeza do Planalto ou, pelo menos, a tentativa de.

Tem mais: as torcidas organizadas de todo o país se reuniram para montar um protesto que esguela um belo “Fora Ricardo Teixeira”. ( Presidente da CBF e mau defunto para o qual Dilma não gasta uma só vela). O barulho é da Confederação Nacional das Torcidas Organizadas que tem menos de um ano e é liderada por Wilder Rocha, também diretor da corintiana Gaviões da Fiel. O movimento, ainda pouco comentado nos sites brasileiros, escolheu uma rodada repleta de clássicos para exibir nas arquibancadas faixas com a frase “Copa com prestação de contas e sem Ricardo Teixeira”. Ou seja: mandou às favas a rivalidade em prol de algo bem maior.

A ideia mesmo é que o Ricardão (muito bem perfilado na Piauí de Julho, por sinal) assista aos jogos de 2014 diretamente de casa - xilindró me parece muita utopia – mas, enfiado em um bermudão, de chinelos, sem a chance de fazer politicagem e maus negócios com a nossa bola.

O drama é claro; com os crimes nas licitações, o tráfico de influências óbvio e declarado do presidente da CBF e os gastos federais capazes de inventar cifras como as dos Jogos do Pan, que tiveram um estouro orçamentário de 1.589% em 2007, essa Copa vai ser de qualquer um, menos nossa.

Boleiros da várzea, guris das escolhinhas de futebol, a mulherada das arquibancadas ou meu avô de 93 anos: ninguém vai conseguir despender a grana que este bilhete vai custar. É, pobres humanos, mortais, suscetíveis a tantas mazelas, a Copa não é de vocês. Aos que acham que protestar contra isso é uma perda de tempo, meu sincero “sinto muito”.

A decisão das organizadas de esquecerem por um momento a rivalidade por uma Copa mais transparente, reativa, de certa forma, uma politização ausente há muito tempo entre nós. E não torça o nariz porque falo que isso aconteceu no futebol! O molejo todo merece atenção, além de adeptos. Quem sabe, hora dessas, a gente não acorda pra ler o jornal e redescobre um país com menos lobistas escondidos em salas de ministérios, menos gente pedindo demissão de cargo público para não se queimar ainda mais, menos sujeira na bola, no INSS, no SUS, nas prefeituras, no imposto de renda do amigo e consegue até levar nossa molecada pra ver uns jogos em 2014 (a preços populares), hein?!

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